Este deck é ao meu ver feito para leituras sem pudores, sem medos de confrontar o nosso lado mais denso.
É um deck ousado, ele transfere às lâminas de forma visceral um mundo imaginário impregnado por seres animalescos, bestiários, antropomorfos. Todos pautados pela Lua... E penso eu que de lunáticos todos temos um pouco ou muito. Assim decidir por uma leitura com este deck é decidir abrir os portais dos nossos submundos.
Logo nem todos estão preparados para tal mergulho. Um mergulho abissal, longo e sem volta garantida.
Seu autor, Patrick Valenza, para criá-lo se baseou em suas pesquisas e laboratórios vivenciais mediante passeios em cemitérios, hospícios, orfanatos abandonados, fábricas desativadas, todos do século 18. Como pano de fundo temos então o ambiente metálico ou árido desses cenários.
Cada corte, cada naipe toma para si um aspecto preponderante, seja um verdejar canibalesco, quase humano mas aonde um mundo selvático fantástico se impõe. Seja um mundo metálico aonde a mecanização impera, seja um mundo urbano soturno aonde o além é pauta.
Aliás ao todo, o que marca no leitor é aquela sensação de estarmos lidando com o mundo do além, com seres desprovidos de humanidade de carne e osso, que não conseguiram tal fato aceitar e se prendem a este mundo dos vivos usando como ponte um metamorfosear com o mundo animal, vegetal ou incorporando-se como almas a objetos que em vida com eles mantiveram uma conexão...
É impossível não lembrar com esse deck do livro O Desfiladeiro do Medo de Clive Barker, pois os personagens das cartas, muitas vezes transpiram o lado animalesco visto no livro, transmitem pinceladas dementes de auto-ilusão... Um ato desesperado para não desfazer-se da sua humanidade num possível post mortem [ao meu ver].
Ou em base ao pano de fundo podemos pensar tal deck numa mesa da casa da serie American Horror Story... Não seria este o cenário ideal?
Para devaneios é de bom tom também, mas não aqueles devaneios sem eira nem beira, mas sim para aqueles aonde nosso desejo é identificar de forma crua e nua o que mantemos dentro de nós.
Se você se permitir perceberá em cada uma das 78 cartas uma ambivalência escancarada, a contenção dum inverso claro, lado a lado com seu conceito primeiro.
Uma simples passada de olhos se torna uma detalhada autopsia do nosso inconsciente com estas cartas. O digo por experiência própria.
Quiçá se dê assim por ter eu meu lado soturno bem alimentado, quiçá para um outro o deck não desperte nada...
Deviant Monn Tarot não é propício para leituras superficiais, rasas, ele é para névoas densas, para águas pantanosas, e para quem não teme o que se esconde na escuridão.
Sempre grata,
Luciana Onofre
Obrigada pela análise lúcida e fluido deste deck. Não o conhecia mas me encantou.
ResponderExcluirPoderia dizer que sua estética lembra a "carnivalle"?
Sim, ele tem um toque do "carnivale", acrescido de pinceladas góticas e ao mesmo tempo kitsch =)
ResponderExcluirAdorei sua visao!ganhei o deck faz um tempinho, você teria algum material traduzido com a explicaçao da simbologia, na visao do autor?? Grato
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